Magic: the Gathering

News

Pioneiros na selva - Decklists do Sheepioneer

, updated , Comment regular icon0 comments

Pioneiro IRL é a mais pura nostalgia

Writer image

revised by Tabata Marques

Edit Article

Vamos falar sobre o hype do momento na comunidade do Magic, o formato “Pioneiro” (ou “Pioneer”), mas permita-me primeiro estabelecer o que este texto não é. Ele não é uma análise aprofundada do metagame do formato baseada, por exemplo, nas primeiras listas bem sucedidas do MOL que já vem sendo divulgadas. Este tipo de lista e possíveis análises você pode encontrar aqui mesmo na Cards Realm (link). Eu gostaria, alternativamente, de abordar este formato do ponto de vista do jogador já investido em outro, no meu caso o Moderno mas poderia ser qualquer um, e defender a ideia de que o Pioneiro pode ser uma diversão memorável mesmo que você não queira, ou não possa, investir na montagem de mais decks competitivos e caros.

Ad

Vivemos um momento único na comunidade do Magic com o Pioneiro. É bastante claro que a recepção do formato foi mais positiva que negativa por uma variedade de motivos, entre eles uma sensação geral de cansaço com os problemas recorrentes do Standard (T2). O Pioneiro já pegou, veio para ficar. Por outro lado, este é um momento de field inteiramente aberta – ainda não é totalmente claro quais serão os decks tier 1 – e, para piorar, ou melhorar dependendo do ponto de vista, foi anunciado pela Wizards que haverá listas de banidas todas as segundas-feiras até que o formato se assente. Isso faz com que grande parte dos jogadores opte por não adquirir ainda cartas muito fortes e potencialmente perigosas, algumas delas com histórico de banimento em outros formatos. O resultado é uma selva que você não pode deixar de tentar desbravar!

A sensação de jogar um FNM Pioneiro IRL (“Papel”) é a da mais pura nostalgia! Tenho certeza que, se você joga Magic há algum tempo, deve ter em alguma estante um deck velho guardado com carinho, porque te traz boas lembranças de outra época, mas que perdeu a serventia em torneios competitivos por algum motivo. Pode ser porque o tal deck rotacionou do T2, ou teve uma peça chave banida lá, ou é um deck Modern que se viu empurrado para fora do meta pelo surgimento de outras forças, ou foi banido lá também, quem sabe? Você vai se surpreender quando testar pequenas adaptações desses decks no Pioneiro. Com uma ou duas pequenas mudanças, o seu deck amarelado sai da estante para pelo menos mais um FNM de glória. O seu deck adaptado do T2 ou do Modern, que parece torto sem alguma peça chave e sem fetchlands, talvez levemente inconsistente ou com aspecto casual, nessa terra sem lei do início do formato, contra todas as expectativas, faz uma graça. Até quando? Não se sabe. Vão começar os torneios maiores, os Magic Fests, o acúmulo de dados divulgados do MOL, vai começar a aparecer a mão nefasta do profissional pairando sobre nossas cabeças, testanto tudo sem parar e quebrando a banca. Paciência, a gente já sabe que é assim que funciona, não é mesmo? Mas esse momento ainda não é hoje, ainda não é essa semana. Sacode a poeira das suas cartinhas velhas, queima meia dúzia de neurônios pra ajeitar uma ou duas coisinhas sem gastar quase nada e parte pra selva antes que desmatem tudo. Esse é o momento de reencontrar velhos amigos de papelão colorido, amigos como esses

Image content of the Website

Image content of the Website

Image content of the Website

e muitos outros que compartilharam bons momentos com você num passado recente. E pode colocar seu Lightning Strike no shield porque não, não tem raio, e pagar 2 por 3 de dano é totalmente razoável aqui.

Na última quinta-feira (31/10/2019), tivemos o Sheepioneer, o Pioneiro inaugural da Portal MTG, loja aqui do Rio de Janeiro muito conhecida especialmente pela comunidade do Modern, com o comparecimento de 21 bravos pioneiros (desculpe, não deu). O que se viu foi um metagame extremamente diverso baseado principalmente no aporte de estratégias clássicas do Modern e de alguma época do Standard contida no período regulamentar do formato novo. Tive acesso a algumas das listas que rodaram neste torneio pelas mãos do Gabriel e do Roger, responsáveis pela voz aveludada e comentários precisos da stream da Cards Realm. Gostaria então de apresentar algumas dessas listas como uma amostra de primeiras adaptações que surgiram e que você poderia tomar como ponto de partida para dar uso às suas cartinhas velhas. Não são versões acabadas ou ótimas de arquétipos. É possível que a melhor resposta para determinada escolha questionável em alguma lista aqui seja simplesmente o fato de que era a carta que aquele jogador já tinha na pasta. Só isso. Mas o mais interessante é o fato, como defendi anteriormente, de que as suas criações improvisadas, tortas, mas possíveis nessa primeira hora, podem sim arrancar algumas vitórias épicas para contar pros netos. Algumas das listas caíram nas minhas mãos sem o nome dos autores infelizmente. Se cometi algum equívoco com a autoria, peço desculpas adiantadas e peço também que me corrijam nos comentários se possível.

Ad

Loading icon

É difícil errar num meta aberto e desconhecido com um Monored Aggro. Enquanto os jogadores tentam ajustar uma variedade de combos de eficiência duvidosa, você simplesmente cai dentro pra matar. Parece bom, não? Esse é um arquétipo presente em qualquer época do T2 – na verdade em quase qualquer formato – o que significa que a gama de opções na pool do Pioneiro é bem abundante. Essa lista foi pilotada pelo Pedro Chagasteles que terminou muito bem na segunda colocação do torneio.

A lista é uma adaptação do Ramunap Red, deck que dominou o T2 no ciclo de Hour of Devastation. De fato, o brasileiro PV Damo da Rosa venceu o Pro-Tour pilotando uma lista similar. Temos ali dois drops 1 de boa qualidade na Monastery Swiftspear (a Mulan, para os íntimos, de Khans of Tarkir) e no Bomat Courier (Kaladesh). A primeira é provavelmente o melhor drop 1 vermelho do Magic, com o potencial de empilhar um volume de dano bem grande já no turno 2 combinando a habilidade de Destreza com os inúmeros burns da lista (olha aí o nosso belíssimo raio de custo 2!). O segundo ajuda a não perder o gás em late game, assim como Light up the stage (Ravnica Allegiance), dificuldade usual de decks vermelhos. Estão ali também a Hazoret (Amonkhet) e as ruínas de Ramunap (Hour), que dava nome à lista original, além do Goblin chainwirler, o matador de elfinhos, carta staple do T2 de Dominaria e o Ferocidon (Ixalan), que protagonizou o evento sensacional de banimento e desbanimento do mesmo T2. Boas opções de side também, entre elas Abrade (Hour), que já se pode considerar um hate de artefatos staple do Modern, e a melhor versão da Chandra já impressa, Chama da Rebeldia (Kaladesh), uma excelente arma para jogos de maior atrito.

Segundo o Chagasteles, a lista é forte, mas ainda precisa de ajustes porque parece ter dificuldades com situações de board stall em late game e, curiosamente, acaba empatando algumas partidas.

Loading icon

Izzet Phoenix foi um deck dominante no Modern desde a impressão da Arclight Phoenix (Guids of Ravnica) até o recente banimento de Faithless looting (Dark Ascension). Com a queda do looting, o deck sumiu do Moderno porque aparentemente as opções de substituição disponíveis, como Izzet Charm (Return to Ravnica) que custa dois manas, não são rápidas o suficiente. Era esperado que quem apreciava este arquétipo tentasse viabilizar uma build no Pioneiro, que tende a ser um formato de um a dois turnos mais lento. Foi o que fez o Yuri Moreira, autor desta lista. Sem o looting, que não é do período válido do Pioneiro, o deck precisa encontrar outras formas de ciclar cartas da mão para jogar as fênixes no cemitério o mais rápido possível. Ali estão o já citado Izzet Charm, além de Merchant of the vale, Thrill of possibility e The royal scions (Throne of Eldraine), Chart a course (Ixalan) e Lightning axe (Shadows over Innistrad).

O deck parece sensivelmente mais inconsistente que sua versão banida do Modern, principalmente por contar com menos cantrips eficientes (looting, Manamorfose, serum visions e slight of hand não são válidas no fomato), mas ainda assusta bastante quando o jogador consegue plantar o Coisa no gelo (Shadows over Innistrad) no turno 2.

Ad

Loading icon

Collected Company (CoCo, para os íntimos, de Dragons of Tarkir) tornou-se imediatamente staple tanto no T2 quanto no Modern quando foi impressa. No Modern, substituiu a banida Birthing Pod (graças a Deus não entra no Pioneiro, é de New Phyrexia) em decks que fazem toolbox ou combos baseados em criaturas. Hoje é peça chave de alguns arquétipos, como Bant Espíritos e BG Elfos. A combinação desta carta com uma base de mana montada com fetchlands (Khans) e “Tango” lands (Battle for Zendikar), criou um dos piores Standards de todos os tempos em que quase todos os decks eram “Verde + quaisquer outras 3 cores” CoCo good stuff. Ventilou-se à época um possível banimento desta carta no T2, mas não foi a cabo.

O autor desta lista específica para o Pioneiro não chegou ao meu conhecimento (ajude-me nos comentários se possível). Basicamente é um conjunto de criaturas de custo 3 ou menos, que podem ser atingidas pela CoCo, geralmente com triggers de entrada em campo (ETB) relevantes. É um deck que se parece um pouco com a lógica do Espíritos do Modern, mas sem o componente tribal.

O mais interessante ali é a presença do Oko, Thief of crowns (Throne of Eldraine), que não pode, evidentemente, entrar na Company. Mas veja bem, por que não, não é verdade? Se você tem as cores simic e um dork de turno 1, não incluir o Oko é quase certamente um erro. E isso parece valer em qualquer formato do T2 ao Vintage (Parabéns, Wizards!) E o melhor amigo do planinauta, o Guilded Goose (Eldraine), está ali para entrar na Company também.

Loading icon

Esta é mais uma adaptação de um deck importante do Modern. O Affinity scales, que veio a desbancar o Affinity “clássico” no Modern de um ano para cá, faz uso da matemática maluca do encantamento Hardened scales (Khans of Tarkir) para potencializar criaturas artefato que possuem sinergia com marcadores. No aporte para o Pioneiro, o deck perde algumas peças importantes, entre elas a Mox Opal (Scars of Mirrodin), o Arcbound ravager (Darksteel) e o Inkmoth Nexus (Mirrodin Besieged), de modo que uma das jogadas mais importantes do deck original (sacrificar o ravager e colocar 9 ou mais marcadores no Inkmoth) não é possível neste formato. Mas ainda assim, o deck, cujo autor infelizmente não me foi informado (ajuda nos comentários, se possível), parece bastante legítimo. A Ballista (Aether Revolt) pode fazer um estrago bem grande, ainda mais com a adição de mais um efeito de multiplicação de marcadores no Winding constrictor, o Scales no palito (também de Aether revolt), e o mais novo staple multiformato Era uma vez (Eldraine) que pode escavar qualquer um dos dois no grimório.

Loading icon

Thiago Almeida, autor desta lista, é o maior entusiasta de cemitério que eu conheço. É também um órfão comportado do Faithless looting, que vem buscando soluções alternativas para manter o seu cemitério vivo. Esta é uma adaptação de um dos arquétipos mais tradicionais do Modern, o Dredge, para o Pioneiro. O único problema do Pioneer Dredge é que não tem... bem, não tem Dredge, que é uma mecânica do Ravnica original, anterior ao período válido no formato. No entanto, a card pool do Pioneiro oferece boas opções de self-mill que podem encher o grave bem rápido. Entre elas Stitcher’s supplier (M19), Satyr wayfinder (Born of the gods) e Minister of inquiries (Kaladesh). Repare que os pay-offs tradicionais do arquétipo estão quase todos lá: Prized Amalgam (Shadows over Innistrad), Narcomeba e Creeping Chill (Guilds of Ravnica), o famoso “Lightning Helix preto”. Perde-se o Blood Ghast (Zendikar original) e Conflagrate (Time Spiral), que de todo modo não seriam tão interessantes sem as fetchlands (banidas) e Life from the loam (Ravnica original).

Ad

Duas ideias interessantes desta lista são a base de mana Sultai (BUG), sem vermelho, que melhora a consistência num formato sem fetches, e a inclusão da Morta perseguida (Lua Arcana) que, segundo o Thiago, é uma das cartas mais importantes do deck. Com um Amálgama na mão que você deu o azar de comprar do topo, você pode descartar (com mais uma carta) pra habilidade da Morta e trazê-lo pro campo no mesmo turno quando ela entrar em jogo. Eu sei que soa estranho, mas esse deck compra do topo, apesar do que o jogador de Dredge está acostumado. Outro ponto interessante está no side: Oko. É aquela história: se você tem verde e azul por que não, certo? Quem não gosta de alces?

Loading icon

E vamos ao campeão da noite! Oko, rei dos memes, roubou a coroa do primeiro Sheepioneer montado em alces e gatos infinitos pelas mãos do Gustavo Pacheco. Esse deck já parece surgir como uma das grandes forças e talvez venha a se mostrar mesmo o melhor arquétipo do formato. O centro da estratégia é o famoso combo Saheeli-gato, que usa a habilidade da Saheeli Rai para copiar o Felidar Guardian (ambos de Kaladesh), que ao entrar dá reset na Saheeli repetindo o processo em loop infinito. Como as cópias tem ímpeto, o jogo acaba no ato. O combo surgiu em Kaladesh e rendeu críticas pesadas à Wizards pelo lançamento de um combo de duas cartas em que as duas estão no mesmo set válido no T2. O resultado foi o banimento de uma das duas peças do combo (o gato). O arquétipo acabou portando também para o Modern, ambiente onde é viável, mas absolutamente não é quebrado.

Anexadas ao pacote do combo, temos também algumas ferramentas de controle e proteção poderosas: Oko e seu melhor amigo Guilded Goose (Alces, vejo alces por todos os lados!) e o Teferinho (Time raveler, de War of the Spark), cuja habilidade estática garante a não interação do oponente com o combo do gato.

Parabéns ao Pacheco pela vitória pioneira!

Loading icon

Esse aí é o meu filhote. Meus quatro amados Nykthos, shrine to Nyx (Theros) e eu arrancamos um belo quinto lugar mesmo contra as minhas próprias expectativas iniciais. Foi com um deck muito similar a este que eu me apaixonei pelo Magic há alguns anos num T2 que ia de Theros a Dragons of Tarkir. Green Devotion era um deck legítimo nessa época. Em geral, a build era RG com Dragonlord Atarka (Dragons of Tarkir) no topo da curva e a Genesis Hydra (M15) como forma de cavar o finisher. Eu, no entanto, sempre preferi a construção em torno de See the Unwritten (Khans of Tarkir), que é mais frágil contra decks azuis com counters, mas um turno mais rápida com relação à outra versão, pois se apóia na habilidade do Surrak, the hunt caller (Dragons), que pode conceder ímpeto ao finisher. A ideia não é minha, o tcheco Ondrej Stratsky trouxe este deck à vida em 2015 chegando com ele ao top8 do pro-Tour de Dragons of Tarkir.

Sem as fetchlands, eu optei por uma versão monogreen ao invés de RG, substituindo o dragão pela criatura verde mais assustadora legal no Pioneiro, o Worldspine Wurm (Return to Ravnica). Com a adição da Leyline of Abundance (M20) e oito dorks de turno 1 ao invés de quatro, o deck na verdade melhorou bastante. Agora o pseudo-combo que se propõe a estabelecer pode entrar no turno 3, e não 4 ou 5, como fazia originalmente. A idéia é muito simples, frágil, mas poderosa: com a ajuda da leyline e de um elfo, você pode fazer um bicho qualquer que ative o feroz para o Unwritten no turno 2. No turno 3, com Nykthos em jogo, você roda a roleta do Unwritten e, se tiver a sorte de acertar Surrak e Vorme, vai atacar para 20 de dano, sendo 15 carregados por um monstrengo atropelador difícil de resolver. Não tem chance contra control, mas faz uma graça contra midrange e aggro. É bonito de ver.

Ad

Revisitar o meu querido Green Devotion velho de guerra, o deck que me trouxe pro Magic entre 2014 e 2015, foi uma viagem nostálgica deliciosa que de alguma forma renovou meu amor pelo jogo e meu desejo de continuar a fazer parte dele. Nykthos, Polukranos e See the unwritten são as origens do meu impulso para escrever este texto. Não que eu queira convencer alguém a abraçar o verde e o big mana como eu, quero tão somente te contar que o formato vale a pena se você, como eu, nutre um amor reprimido por um deck que foi esquecido na poeira das rotações. Essa é a hora de tirar esse deck do armário!