Análise: Banimento de Sticker e Attraction no Legacy e no Vintage

Saudações, minha consagrada turma do Legacy (e do Vintage também)! Após um longo tempo (mais precisamente, desde de Março de 2023 no Legacy e Maio de 2020 no Vintage), tivemos a retirada de circulação de cartas no mais recente anúncio da atualização da lista de banidas e restritas.

Nesse meio tempo, tivemos alguns desbanimentos, mas agora a Wizards se moveu e invocou o martelão do banimento e mandou para o cantinho da vergonha um enorme rol de cartas:

Todas as cartas que envolvem Stickers ou Attractions&, mecânicas do set Unfinity, foram banidas tanto do Legacy quanto do Vintage*.

A razão oficial por trás desse movimento foi a questão logística que envolve ter um deck secundário com Stickers e/ou Attractions, especialmente em situações nas quais os oponentes copiavam cartas com essa mecânica – se você copiar uma carta de Sticker, é necessário que você tivesse apresentado um deck de Sticker no início do jogo, mesmo que você não tenha nenhuma carta desse tipo, só pra começar a citar o imbróglio que essas mecânicas representam.

Mas o verdadeiro culpado por criar essa bola de neve atende pelo nome (ou pelo não-nome) de _____ Goblin.

Em 1998, desenhada e desenvolvida por Mark Rosewater, a Wizards lançou o set Unglued, uma expansão de comédia não-válida nos formatos sancionados. A expansão parodiava muitas histórias e conceitos de Magic e foi seguida por outros sets “Un-”, também escrachados e não válidos em torneios: Unhinged, em 2004, Unstable, em 2017, e Unsanctioned em 2020.

Para se destacar das expansões normais, as cartas desses sets tinham bordas prateadas. Mas tudo isso mudou quando a quinta expansão Un- foi lançada: Unfinity tinha bordas pretas e um mix de cartas legais e carta não-válidas – a distinção era feita por um símbolo holográfico no formato de uma Bolota (Acorn) ao invés do oval prateado padrão. Segundo o próprio anúncio de hoje, “o objetivo principal por trás de tornar legais algumas cartas de Unfinity era que cartas de Sticker e Attraction pudessem ser jogados no Commander, mas não existia uma maneira de tornar um monte de cartas legais no Commander e não no Legacy. Pensávamos que o nível de poder dessas cartas era baixo o suficiente para que, se as pessoas as experimentassem no Legacy de vez em quando, seria uma surpresa divertida.” Só que esqueceram de avisar isso para o já citado _____ Goblin.

O Goblin sem nome, pivô do assunto de hoje, se envolveu não em uma, mas em duas polêmicas em relação ao formato. A primeira, que é a diretamente envolvida com o assunto de hoje, é o fato dele trazer para as mesas de campeonato uma mecânica que tinha a intenção de ser jogada nas mesas casuais.

Só que no Legacy, a aceleração que ele fornecia, protegido por Cavern of Souls e buscado por Goblin Matron e Goblin Ringleader, era capaz de colocar Muxus, Goblin Grandee muito rapidamente em jogo.

Quando o deck incorporou Broadside Bombardiers, ele rapidamente ascendeu ao topo do formato e tivemos uma invasão de Stickers nas mesas físicas dos torneios de Legacy. Mas não nas mesas virtuais do Magic Online, o que nos leva à segunda polêmica.

Unfinity não foi (nem deverá ser) lançada no Magic Online, mas como é o caso de cartas que possuem potencial de jogo nos formatos eternos, elas acabam incluídas nos Treasure Chests de premiações de torneios e se tornam válidas para jogo. Só que a mecânica de Sticker não foi (e também nem deverá ser) implementada na plataforma online. A solução oferecida pela Wizards foi alterar a natureza da sua habilidade desencadeada, vinculando-a uma rolagem de um d20 ao invés dos Stickers revelados no início da partida.

Na prática, a carta ficou muito diferente da versão original, gerando uma dicotomia entre a versão física e a versão de papel, cada uma com vantagens e desvantagens e aumentando a controvérsia entre quem joga no papel e quem joga no computador. Essa divergência entre versões e a polêmica envolvida, levou a Wizards a informar que resolveria a questão na próxima janela de anúncio de banimentos. Muitos jogadores entenderam isso como a possibilidade de se publicar uma errata na carta de papel. Hoje vimos que a decisão foi outra.

Além de toda essa controvérsia envolvendo o Goblin sem nome, outra situação começou a surgir em alguns torneios, e que certamente foi mais um fator para essa tomada de decisão, foi o fato de que alguns jogadores passaram a se valer de que em torneios de papel, quando você jogava de Goblin Stompy, você tinha que apresentar o seu deck de Sticker no início de jogo, já escancarando antes do jogo começar qual era o deck que você estava usando.

Só que esses jogadores não estavam jogando de Goblin. Na verdade, sequer estavam usando cartas de Sticker no deck (ou usavam uma só no sideboard quando o entendimento do organizador era que você não poderia usar Stickers sem cartas com a habilidade – a regra oficial era um tanto quanto nebulosa e esse assunto rendeu bastante discussão online), se valendo desse subterfúgio, ainda que teoricamente dentro das regras, para ganhar vantagem sobre oponentes que imaginariam estar enfrentando um deck de Goblins, quando na verdade era um outro arquétipo qualquer.

Por fim, por se tratar de uma questão logística em torneios sancionados, o banimento foi estendido também para o Vintage, apesar de o formato ter tido uma interferência mínima dessas mecânicas.

Ok, os Stickers – e consequentemente o _____ Goblin, foram excluídos do Legacy e do Vintage, mas e quanto aos demais problemas dos formatos, não deveriam ser resolvidos também nessa leva de banimentos? No caso, estamos falando de Orcish Bowmasters e Grief no Legacy e Urza’s Saga e Lurrus of the Dream-Den no Vintage.

No próprio artigo de hoje, a Wizards citou que está de olho nessas cartas, mas que decidiu não tomar nenhuma atitude agora, pois estamos à beira do lançamento de Modern Horizons 3. Visto como os MH predecessores e o set de Senhor dos Anéis afetaram profundamente esses formatos, eles preferiram então ver a cara que os formatos vão ter após o lançamento para então tomar uma decisão mais informada.

No caso do Legacy, em particular, há ainda o fato que o banimento dos Stickers remover de circulação um dos principais decks do formato, alterando ainda mais o equilíbrio de forças.

Tendo isso em mente, em relação ao Vintage, ficamos apenas no aguardo de MH3. Já no Legacy, temos um turbilhão antes desse mergulho. Por isso é bom ter uma noção de quem ganha e perde com a saída do Goblin Stompy do topo dos tiers do formato.

Vencedores: Beanstalk Control, Boros Initiative, Red Prison, Lands, Death and Taxes, Death’s Shadow e 8-Cast são arquétipos que tinham dificuldade contra a horda de Goblins e, portanto, devem respirar mais aliviados com a sua saída de circulação;

Perdedores: por outro lado, Reanimator/Scaminator, Cephalid Breakfast, Doomsday, Dark Depths, Grixis Delver, Painter e RUG Cascade são arquétipos que demonstravam índices positivos de vitória contra o Goblin Stompy e, portanto, vão encarar um formato com um adversário favorável a menos.

Cartas como Torpor Orb, Force of Despair e Pyrokinesis, e até mesmo Hydroblast em certo grau, devem ver menos jogo nos sideboards, já que o motivo principal motivo para elas verem jogo acabou de sair de circulação.

Concluindo, não acho que os Goblins deveriam ser atingidos por questões de nível de poder, pois o Meta já havia se adaptado à sua presença, porém entendo perfeitamente os motivos para resolver o problema que a própria Wizards causou a lançar um set Un- em formatos sancionados.

Agora é esperar o terremoto que Modern Horizons 3 deverá causar e avaliar se a dupla Grief / Orcish Bowmasters ainda representa o mesmo nível de problema ou se devem seguir o rumo dos Stickers. O mesmo vale para Urza’s Saga e Lurrus of the Dream-Den no Vintage.

Espero que tenham gostado da análise, um abraço _____ e até a próxima!