Magic: the Gathering

Opinion

Pauper: Banimentos e Desbanimentos precisam ser autocráticos

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O Pauper Format Panel perguntar a opinião pública antes de tomar uma decisão de banimento ou desbanimento abre um precedente perigoso para o ecossistema dos formatos competitivos.

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revised by Tabata Marques

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Na última segunda-feira (16), o Pauper Format Panel, comitê que supervisiona e opera como um conselho para as decisões de banimentos e desbanimentos no formato, lançou um vídeo através do Gavin Verhey para falar sobre a saúde do Metagame, e até sobre a possibilidade de desbanir Prophetic Prism. Você pode checar o vídeo abaixo.

Todos os pontos apresentados pelo PFP parecem pertinentes, a comunicação do Gavin como porta-voz da equipe continua impecável e, sejamos honestos, o estado do Pauper em emergências - como no caso da Initiative - foi exemplar. No entanto, um ponto chamou minha atenção tanto na divulgação deste vídeo quanto no próprio conteúdo dele: o constante chamado por participação do público e suas opiniões quanto às considerações do Painel.

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Enquanto essa chamada é, sim, útil para criar o senso de comunidade, há um ponto que requer atenção: jogar para a plateia, esperar aprovação ou reprovação dela na gestão do Metagame é uma decisão ruim, gera precedentes perigosos e, principalmente, coloca a própria integridade do Pauper, enquanto formato competitivo, em risco.

A comunidade sabe o que quer, mas nunca concordará em como quer

Vamos direto ao ponto, todo jogador de Magic quer o mesmo: que o jogo seja agradável e divertido para ele. A razão para existir tantos formatos envolve, também, a diversidade de gostos existentes no ecossistema do jogo, visto que há jogadores que preferem mais ou menos nível de poder, Metagames mais rápidos ou mais interativos, decks mais explosivos ou mais voltados para atrito, e assim por diante.

O problema é que não existe, em nenhum ambiente de Magic: The Gathering, um consenso do que é melhor para a comunidade, vindo da própria comunidade. O Pauper, hoje, é o exemplo perfeito disso - como o próprio vídeo e os números apontam, o Metagame atual é ditado por quatro estratégias distintas, com outras quatro a seis competindo entre si por um espaço. Em um panorama, a diversidade de decks aponta para um ambiente saudável, enquanto como também apontado no vídeo, a velocidade dos jogos hoje também aumenta a experiência de jogos frustrantes, onde um jogador não teve a oportunidade de aproveitar a partida.

Para alguns, o Pauper está em um péssimo estado, e por tempo demais. Para outros, o Metagame se desbalanceou desde que Modern Horizons II foi lançado, e nunca mais voltou a ser o que era. Outros, no entanto, parecem seguir a mesma linha do PFP de enxergar a diversidade nos números, e defender que essa variedade de hoje só se diferencia pelo fato de que os melhores decks atuais não são os mesmos da era pré-MH2. Se formos mais fundo, há ainda aqueles que, nostálgicos de arquétipos como o Stompy ou o Elves, anseiam por intervenções e/ou downshifts que deem aos seus antigos decks a possibilidade de competir de novo - Todos eles, sem exceção, querem se divertir jogando Pauper.

Mas conseguem imaginar a bagunça se formatos fossem ditados por opinião pública? Só com base nos comentários mais recorrentes das mídias sociais, os seguintes cards poderiam ser banidos:

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Banir qualquer uma dessas peças causaria um estrondo, e ainda que todas elas fossem banidas, o Metagame se adaptaria, novos melhores decks surgiriam, e voltaríamos para o círculo onde há algo de errado no Pauper. Seu ambiente nunca foi completamente balanceado, e nunca será - nem mesmo com uma inserção direta de cards pontuais, porque sempre haverá a oportunidade de colocar opções mais ousadas para movimentar as coisas.

Estabilidade de longo prazo no Magic competitivo é uma utopia, toda nova inserção traz um novo risco, o jogo está em outra era de mudanças abruptas em vários sentidos, e o power creep nunca foi tão rápido como tem sido nos últimos três anos. As chamadas 'rotações artificiais' acontecem, é uma ação arbitrária da qual os jogadores não têm controle sobre. Banimentos e desbanimentos deveriam ser igualmente autocráticos, pois apesar da opinião dos jogadores ser importante, a cacofonia de opiniões distintas sobre o que é melhor para o Metagame mais prejudica do que ajuda na hora de tomar decisões.

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Há um motivo bem claro para isso.

O PFP tem os dados, nós não

Enquanto a comunidade pode criar documentos, artigos e planilhas para avaliar winrates, representatividade e outras informações, com o Pauper sendo uma modalidade cujo ambiente competitivo é majoritário no MTGO, apenas as pessoas relacionadas com a Wizards of the Coast possuem os dados necessários para avaliarem a saúde dele com precisão cirúrgica.

Uma das vantagens de estabelecer um conselho para gerenciar algo é que há pluralidade de opiniões, e há a necessidade de chegar em um consenso ao invés de apenas tomar a decisão que um ou dois indivíduos acreditam ser o melhor para determinado assunto. O maior problema que vejo com qualquer análise ou planilha, as minhas inclusas, é que elas sempre vão refletir a opinião ou viés daquele comunicador, mesmo quando o único propósito no texto ou documento dele é comunicar.

Logo, as chances de tomar decisões mais assertivas passa por trabalhar com os dados que ninguém mais têm acesso além da própria WotC e o PFP. Um exemplo claro veio de um dos primeiros banimentos do comitê, e que agora é alvo de debate sobre um desbanimento: Prophetic Prism - ninguém esperava por ele, ninguém queria que ele fosse banido. Ainda assim, essa intervenção causou o efeito que o painel esperava na representatividade e função do Tron.

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Seja por efeito de manada, ou viés pessoal, as mídias sociais de Magic nunca terão acesso a todos os elementos para enxergar as decisões assertivas. Nossa lógica sempre é a de "banir o card problemático", sem enxergar o entorno - Bridges e Monastery Swiftspear no Pauper, Grief no Modern, Karn, the Great Creator no Pioneer, Sheoldred, the Apocalypse no Standard... a 'acusação' é sempre contra a peça mais ofensiva. Somos acostumados a compartilhar nossa experiência ruim e atrelar ela ao 'culpado direto', ao invés de investigarmos o contexto e avaliarmos coletivamente, como nas antigas pólis gregas, onde o problema está.

Logo, mudanças no ambiente competitivo precisam ser autocráticas

Não só no formato, não só no Magic, não só nos TCGs. Qualquer gerenciamento de jogo competitivo precisa de uma equipe responsável para definir o que é melhor ou não para o ambiente, e a comunidade precisa de adaptar às mudanças, ou na ausência dela.

Desde o surgimento do PFP, o Pauper nunca esteve, por muito tempo, em um estado onde seu ambiente competitivo fosse intragável. Quando os botões de emergência precisaram ser pressionados por conta do Turbo Initiative, assim foi feito em poucas semanas.

O estado do Metagame atual pode até não agradar todo mundo, mas ele não está em um ponto onde uma estratégia é predominante demais - logo, a falta de intervenção também é uma decisão e, como apresentado no vídeo acima, um posicionamento que, tal qual todas as outras intervenções diretas no jogo, são arbitrárias.

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Não caber ao jogador decidir o que deve, ou não, ser banido é um dos elementos que compõe o ecossistema de Magic: The Gathering. Já tivemos várias explicações e motivos para certos cards serem banidos ao longo dos anos, incluso situações de cards que criavam uma 'experiência ruim de jogo' (Cauldron Familiar e Teferi, Time Raveler no Standard e Mycosynth Lattice no Modern), ou por tomarem tempo demais numa partida (Second Sunrise no Modern e Sensei's Divining Top no Legacy), ou até para 'diversificar as coisas'.

Nem todas foram escolhas cirúrgicas, nem todo banimento funciona conforme o planejado, mas todas foram escolhas tomadas pela WotC, sem precisar pedir opiniões externas antes de fazer. O único problema é que, como vimos na atualização de banidas e restritas do dia 16 de outubro, a WotC também não se importa em dar feedbacks sobre a sua perspectiva com a mesma clareza que um comitê especializado.

Isso não significa não dever satisfações para a comunidade

Uma das razões para a escrita desse artigo é que o PFP consegue, mesmo em vídeos curtos, ser claro e conciso sobre a sua visão. E, no ecossistema de Magic como o conhecemos, essa visão é a lei no Pauper, goste ou não.

Como mencionado acima, um dos maiores problemas com a comunicação oficial da Wizards nos anúncios de banidas e restritas é que eles nem sempre são muito objetivos sobre os banimentos. A fase em que eles apresentavam winrates e outros elementos para justificar deixar algo dentro ou fora de um formato competitivo parece ter passado e, hoje, a maioria das explicações se limitam a dois parágrafos, ou nenhum, quando não há mudanças.

Se o Painel tomasse o mesmo caminho e deixassem os jogadores no escuro sobre a sua perspectiva do ambiente, o tema desse artigo seria outro, porque haveria uma cobrança fatídica para uma comunicação mais clara. Enquanto eles permanecerem escrevendo e fazendo vídeos explicando como enxergam o Pauper e discutindo os pontos-chave do Metagame, a comunidade deveria dar um pouco mais de confiança ao trabalho deles e, para bem ou mal, aceitar as mudanças e circunstâncias em que o formato se encontra.

"Afinal, onde você quer chegar?"

Em se o Pauper Format Panel quer fazer alguma mudança, façam. Não perguntem, não joguem para a torcida, não esperem aprovação externa. O comitê é feito para tomar as melhores decisões para o formato, e não aquelas que o público quer, e a comunidade nunca será uníssona sobre o que deseja.

Decisões precisam ser tomadas, o comitê tem acesso a informações que nós não temos, e postergar determinadas atitudes para buscar aprovação externa ao invés de analisar, agir e observar os resultados é um método perigoso para o ecossistema de um ambiente onde cada jogador tem uma percepção diferente de como gosta de jogar.

E enquanto Gavin e os outros se preocuparem em prestar comunicados claros sobre a saúde do Metagame, a comunidade deveria dar um pouco mais de confiança nos dizeres deles ao invés de se deixarem levar pelo viés pessoal. Há inúmeras formas de jogar Magic, e se o Pauper não te agrada hoje, há uma dúzia de outras opções e/ou formatos para jogar, ou você pode até tentar diversos meios de buscar adaptações para o ambiente atual.

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E sobre aquele Prisma, e um certo Goblin...

O problema que o "Name Sticker" Goblin está causando, e o possível desbanimento de Prophetic Prism foram os dois outros tópicos de debate no vídeo, então vamos discutir um pouco sobre eles.

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A versão on-line de "Name Sticker" Goblin funciona de maneira diferente da existente na edição de Unfinity. O problema do card no Pauper é que ele sempre gera mana positiva, enquanto há um risco dele gerar apenas paridade de recursos, ou mana negativa no papel.

O fato desssa criatura funcionar de forma distinta nos dois cenários é razão suficiente para acreditar que ela deveria ser banida até que o Magic Online comportasse o jeito certo de jogar com ela. Com o formato unificado, ter listas distintas de um mesmo deck Tier 1 por conta de um problema de uma mecânica operar diferente nas duas mídias parece prejudicial.

Além disso, o "Name Sticker" Goblin no MTGO é, basicamente, um card de combo, do qual nada de justo vai sair dele. Sua presença soa como um risco desnecessário, e um desencontro ruim para a unicidade do Pauper, em especial para países que possuem torneios grandes.

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O banimento de Prophetic Prism foi, talvez, a iniciativa mais engenhosa do PFP, e serviu ao seu propósito de segurar a eficiência de mana do Tron. Desde então, ele consegue se manter nos holofotes graças à Energy Refractor, mas perdeu uma parcela da sua velocidade e consistência. Seu banimento também afetou a consistência de cores do Affinity, mas não foi tão sentido pelo arquétipo.

Enquanto, sim, o Pauper está mais rápido hoje, o desbanimento de Prophetic Prism parece trazer mais problemas do que soluções. O Tron, enquanto arquétipo, consegue se manter no Tier 1.5 ou Tier 2 do Metagame, e não aparenta precisar de um empurrão só para ganhar mais espaço - pior do que perder rápido, é ficar travado em um soft-lock do Tron, e torcer para o oponente perder no clock. Nos jogos de papel, a situação é ainda pior porque, se o jogador de Tron ganhar o Game 1, um empate no Game 2 é um resultado excelente para ele.

Logo, desbanir o artefato parece só piorar as coisas em uma tentativa de torná-lo menos rápido, com um arquétipo que sofre justamente contra as propostas de três dos quatro melhores decks atuais. A ideia de tentar diminuir a velocidade do Pauper não é ruim, mas trazer Prophetic Prism de volta para isso parece o caminho errado, visto que a experiência que o Tron proporciona é tão desgostosa quanto, ou ainda pior, do que perder em poucos turnos.

Conclusão

Isso é tudo por hoje.

Se você tem alguma dúvida, sugestão, ou ideia, fique à vontade para deixar um comentário!

Obrigado pela leitura!