Magic: the Gathering

Opinión

O Preço Final do Deck Quebrado

, actualizado , Comment regular icon0 comments

Jogar com o melhor deck do formato é natural no Magic competitivo. Mas quando ele possui vantagens notórias em relação ao resto do Metagame, isso tem consequências — e podemos prever elas.

Writer image

revisado por Tabata Marques

Edit Article

O Preço de Jogar com o Melhor Deck

Todos gostamos de jogar com o melhor deck e obter os melhores resultados, é uma máxima inevitável do Magic competitivo e, normalmente, o jogador com o arquétipo mais bem-preparado para o Metagame costuma estar presente com mais frequência no Top 8 dos grandes torneios.

Magic é um jogo em constante mudança, especialmente numa época em que temos cada vez mais lançamentos saindo em uma parcela menor de tempo, e mais jogadores acompanhando e jogando os formatos construídos tanto em lojas locais quanto no ambiente Online. E quando falamos especificamente de torneios, consideramos uma parcela significativa de jogadores que possuem dois objetivos: melhorar sua experiência com o jogo, tomada de decisões e sua familiaridade com a lista que está utilizando e, preferencialmente, vencer o torneio.

Ad

Jogar com o melhor deck significa aumentar suas chances de vencer se você souber pilotá-lo corretamente (já que, normalmente, o resto do Metagame estará voltado contra você), e a maioria deles lhe recompensa muito por tomar boas decisões durante a partida, além de oferecer uma vantagem estratégica com relação aos demais arquétipos presentes no formato.

Isso, no entanto, vem também com um preço que vai além do valor monetário investido nos cards, em conjunto com uma reação em cadeia levada pela representatividade dele nos torneios, nos holofotes dos coverages, guias e discussões em fóruns e sites referentes aos meios mais eficientes de derrotá-lo e, ocasionalmente, também pagamos o preço final: Banimentos.

Loading icon

Recentemente, o Naya Winota foi banido do Pioneer poucas semanas antes da temporada de Qualifiers para o Pro Tour: Dominaria United, gerando uma repercussão negativa enorme por parte da comunidade, que se sentiu obrigada a abandonar o formato porque seu arquétipo deixou de existir, e a maioria de seus cards tendem a não coexistir em outras estratégias existentes na cena competitiva do formato.

Infelizmente, essas situações de fato ocorrem e não há muito o que podemos fazer sobre além de procurar mitigar os danos. Mas banimentos não são uma coisa nova, e podemos aprender com eles, em especial sobre como investir nossos recursos e como evitar ser tão majoritariamente prejudicados por eles.

Como exemplo, eu já sofri com diversos banimentos nos formatos construídos — O Blue Monday, Arcum’s Astrolabe, Fall from Favor e Atog no Pauper, Faithless Looting no Modern, Deathrite Shaman no Legacy, Smuggler’s Copter, Oath of Nissa, Inverter of Truth e Lurrus of the Dream-Den no Pioneer, Thassa’s Oracle e Time Warp no Historic e Winota, Joiner of Forces no Explorer — e estar no meio de tantas intervenções diretas definitivamente me ensinou algumas lições sobre como isso acontece e como mitigar esse dano, especialmente num momento em que os jogos presenciais estão retornando a todo vapor, e estamos de fato investindo dinheiro físico em maços de pedaços de papelão.

Mas primeiro, precisamos responder a uma pergunta elementar:

O que define um “melhor deck”?

Como exatamente definimos qual é o melhor deck de um formato competitivo? A resposta óbvia é “o arquétipo mais presente e/ou com a maior winrate nos eventos” — e isso não está errado porque ser o melhor deck é, consequentemente, obter os melhores resultados, caso contrário, ele sequer seria uma boa escolha para torneios.

Porém, há dois outros elementos que precisamos compreender: o primeiro é que o Metagame normalmente não é estático, e o melhor deck tende a mudar conforme novos lançamentos chegam, ou de acordo com como os jogadores se adaptam às estratégias mais predominantes e novos arquétipos se estabelecem no topo do formato. É muito comum constatarmos isso no Standard, onde a pool de cartas é menor e a quantidade de jogos que ocorrem diariamente no Magic Arena colaboram para resolver o Metagame mais rápido — Portanto, quando falamos de um “melhor deck”, estamos, na verdade, mencionando a estratégia de maior sucesso dos torneios naquele momento.

Ad

O segundo ponto é que, apesar da natureza imprevisível de seus jogos, Magic: The Gathering possui padrões de repetição, afinal é simplesmente impossível criar grandes novidades num jogo com quase 30 anos de história, e saber identificá-los ajuda a compreender a natureza do próprio jogo e tomar decisões importantes na hora de construir nossos decks, comprar novos cards, ou até mesmo decidir quando devemos ou não jogar torneios.

No que concerne ao “melhor deck do formato”, eles costumam seguir um ou mais desses três padrões:

O Bom Melhor Deck — Os que possuem uma partida equilibrada contra a maioria do Metagame

Normalmente, o melhor deck do formato num Metagame saudável é aquele que dispõe das mágicas e ameaças que constroem a sinergia mais eficiente do baralho, garantindo uma boa mistura de respostas e ameaças que o permite estabelecer um jogo equilibrado ou bom contra a maioria das demais estratégias.

Loading icon

Julgo que o Rakdos Midrange é um ótimo exemplo de um “bom melhor deck” — Ele possui criaturas eficientes, algumas das melhores interações do formato, uma poderosa engine de valor e procura seguir um padrão de jogo justo onde vence por acumular mais recursos do que seu oponente e realizar trocas eficientes a cada turno.

Loading icon

Apesar de eu acreditar que cards como Ragavan, Nimble Pilferer não deveriam existir para início de conversa (mas isso é tópico de outro artigo), o Izzet Murktide do Modern segue o mesmo padrão: ele é uma mistura das melhores mágicas e ameaças disponíveis em suas respectivas cores no formato, serve para monitorar os decks injustos, e colabora para manter o equilíbrio do formato num panorama.

O Melhor Deck Temporário — Os que se apresam de um Metagame despreparado e se estabelecem no topo

Normalmente, esses arquétipos surgem em um grande torneio repentinamente, fazem bons resultados, mais pessoas o reconhecem como uma escolha viável e quando vemos ele está tomando boa parte do Top 8 de vários eventos competitivos, criadores de conteúdo estão escrevendo sobre ele ou o pilotando em streamings, e quando você menos espera, ele está no topo das páginas de Metagame.

É muito comum confundirmos essa categoria com um deck quebrado, porque eles surgem quando uma nova edição é lançada, e um novo card possibilitou certa proposta naquele formato competitivo, e a consequência natural costuma ser um frenesi da comunidade em debater sobre esse novo arquétipo ou, até mesmo, pedir o seu banimento.

A diferença é que, normalmente, esse arquétipo ocupa esse espaço no topo por sua estratégia ser nova, o resto do formato ainda não está habituado a o enfrentá-lo, e suas fraquezas naturais não foram descobertas, além dele comumente se apresar de algumas das principais listas competitivas do momento.

Loading icon

Existem diversos exemplos dessa categoria, mas o mais memorável para mim, foram as listas de Death’s Shadow de 2017, porque elas mudaram completamente a maneira como conhecíamos o Modern.

O Jund Shadow teve sua grande explosão no formato quando Aether Revolt trouxe Fatal Push, que se tornou uma staple instantânea e dava mais uma recompensa pelo uso de Mishra’s Bauble, e o arquétipo se estabeleceu como o melhor deck do formato porque, diferente do clássico Jund como o conhecíamos, o baixo custo de suas mágicas e o alto poder de suas criaturas lhe davam os meios necessários para jogar por baixo dos famosos Big Mana da época — Tron e Scapeshift.

Ad

O Grixis Shadow surgiu pouco tempo depois, para se apresar das versões Jund e possibilitar que um arquétipo tão eficiente em mana pudesse jogar com base no atrito e no card advantage ao recorrer a Kolaghan’s Command e Snapcaster Mage, além de ameaças que desviavam de Fatal Push, como Gurmag Angler e Tasigur, the Golden Fang, e não levou muito tempo para ele se estabelecer como o absoluto melhor deck do formato e levar até jogadores profissionais renomados a gravar vídeos recomendando um banimento.

No entanto, o que realmente aconteceu foi que Death’s Shadow simplesmente mudou o jeito de jogar Modern, e estratégias antes pouco viáveis como Death & Taxes começaram a ascender para se apresar de suas fraquezas naturais e, ao decorrer dos anos, o Grixis Shadow e suas demais variantes apenas se tornaram mais um dentre os principais competidores do Metagame.

Nesse caso em particular, levou pouco mais de um ano para o formato se adaptar, mas, normalmente, o Melhor Deck Temporário fica nesse espaço por apenas algumas semanas, ou poucos meses.

O Melhor Deck Quebrado — Os que distorcem formatos e possuem o famoso botão de free win

E por fim, temos aquele que é tão temido por todos os jogadores, organizadores de eventos e, ouso dizer, até pela Wizards of the Coast: os arquétipos que quebram formatos.

Normalmente, decks que se encaixam nessa categoria fazem algo que burla as regras primordiais do jogo, como valores de mana e cadência de jogadas e/ou apresentam o que particularmente nomeio de “botão de free-win” — Uma combinação ou jogada tão impactante e explosiva que ganhará a partida por conta própria ou colocará o jogador numa posição muito mais vantajosa do que a do seu oponente.

Além disso, essa categoria também se caracteriza por basicamente forçar o resto do formato a jogar conforme suas regras, comumente incluindo cards que pertenceriam ao Sideboard ou jamais veriam jogo competitivo se não fosse a específica situação onde o ambiente torna dessa opção viável em torneios.

Loading icon

Suponho que nada no Magic da última década reflete tanto a natureza de um deck quebrado quanto o período em que Hogaak, Arisen Necropolis era válido no Modern, porque ele tinha absolutamente tudo o que categoriza esse arquétipo: ele trapaceava em mana ao basicamente conjurar sua principal ameaça tão cedo quanto no turno 2 praticamente de graça, trapaceava em permanentes no campo de batalha ao retornar Vengevine e Bloodghast de seu cemitério, e ainda apresentava elementos de free win e combos infinitos com Bridge from Below e Altar of Dementia.

Mas nem sempre o deck quebrado será tão evidente ao ponto de dominar o Metagame, oferecer uma winrate de 80%, colocar 16 de poder na mesa no turno 2 e arrancará afirmações fervorosas dos comentaristas em grandes eventos. Normalmente, ele apenas oferecerá uma estratégia mais eficiente do que o resto do formato consegue lidar, com uma vantagem mais tímida, mas notória, em relação aos demais decks.

Ad

Loading icon

Loading icon

Creio que esse foi o caso com a maioria dos banimentos recentes no Pioneer: Eles não eram exclusivamente as únicas opções viáveis para jogar torneios e tinham suas vulnerabilidades e matchups ruins, mas a sua principal estratégia estava um passo à frente do resto do Metagame, dificultando um progresso saudável das partidas, já que um oponente estava sempre se forçando a jogar respeitando o botão de “free-win” deles, colocando-se para trás enquanto eles conseguiam se aproveitar disso jogando um jogo justo.

Ou seja, o Melhor Deck Quebrado é aquele que apresenta uma clara vantagem em relação ao resto do Metagame ao estabelecer o seu próprio padrão de jogo e forçar os demais arquétipos a se adaptarem a ele ou perderem o jogo.

Algumas vezes, eles serão notórios e dominarão o cenário competitivo por completo. Em outras situações, eles nem sempre terão uma vantagem notória sobre os demais, farão parte da cadeia de pedra-papel-tesoura do formato, mas oferecerão inúmeras situações onde ganharão a partida “de graça” por conta de uma combinação específica de cards — naturalmente forçando o resto do formato a jogar em torno deles.

Estou jogando com um deck quebrado?

O melhor deck de um formato é aquele que produz os melhores resultados, e consequentemente, jogar com ele lhe dará uma vantagem teórica em relação às demais estratégias presentes no formato. Mas como acabamos de constatar, nem todo “melhor deck” será um “deck quebrado”.

Inclusive, esse termo é excessivamente utilizado pela comunidade de todos os formatos para definir estratégias das quais temos desgosto jogando contra, ou para definir um arquétipo que, normalmente, é apenas o predador natural de decks famosos e amplamente utilizados. Quebrar um formato requer fatores específicos, e não apenas o desgosto de uma parcela de jogadores com relação a uma determinada estratégia.

Como mencionado anteriormente, por conta de sua carga histórica de quase trinta anos, Magic é um jogo de padrões — O que também representa a possibilidade de avaliarmos e estabelecermos os elementos comuns dentre a maioria das estratégias que quebram formatos competitivos.

Seus resultados são predominantes

Isso é natural para todo e qualquer “melhor deck”: eles terão mais resultados positivos do que os demais e estarão comumente estacionados em torno de 10 a 15% da parcela do Metagame, com esses números podendo oscilar até 20% em alguns formatos.

Normalmente, um deck quebrado gera alguns efeitos diferentes, como sua predominância chegar aos 25, ou até 30%, enquanto os demais arquétipos competitivos tendem a estar abaixo dos 10%, ou costumamos tê-lo com 25% a 30% e outro que possui uma matchup positiva contra ele com cerca de 10 ou 15%, demonstrando um Metagame polarizado.

Outro ponto que devemos considerar também é a representatividade e a winrate geral que o “melhor deck” possui contra o resto do formato. Se ele aparece em excesso no Top 32 dos Challenges por apresentar uma winrate muito favorável contra basicamente todo o Metagame, é muito provável que o formato precise se adaptar para jogar contra ele, e se isso não ocorre em duas ou três semanas, provavelmente estamos lidando com uma situação de deck quebrado.

Ad

Estatísticas por @MindGears
Estatísticas por @MindGears

Um exemplo clássico disso foi o Pauper pós-Modern Horizons II em 2021, onde Storm e Affinity basicamente representavam mais da metade do Top 32 de basicamente todos os torneios da época.

Normalmente, eles trapaceiam nas mecânicas do jogo

Decks quebrados não são construídos para jogar justo e sim para tirar proveito de alguma habilidade ou novo card que lhe permite estar à frente de seus oponentes, normalmente burlando alguma regra do jogo.

Loading icon

Em alguns casos, isso é incrivelmente óbvio, como foi com o Four-Color Valki, que levou inclusive a uma mudança de regras na própria habilidade Cascade.

Nele, o jogador recorria a mágicas como Violent Outburst e Ardent Plea para conjurar Tibalt, Cosmic Impostor por apenas três manas, possibilitando ao jogador acumular absurdos de card advantage que, normalmente, estariam acoplados a um Planeswalker de sete manas.

Loading icon

Em um conceito geral, o Naya Winota se encaixa justamente nessa categoria onde, com o setup certo, você pode trapacear em múltiplos custos de mana ao colocar Tovolar’s Huntmaster e outras criaturas no campo de batalha de graça, meramente por ter Winota, Joiner of Forces no campo de batalha.

Loading icon

Outros meios de trapacear nas mecânicas do jogo também incluem o famoso botão de “free win”, em específico aqueles que possibilitam uma vitória instantânea à partir de uma combinação de determinados cards.

Ou seja, combos fáceis de montar que vencem o jogo instantaneamente, ou criam uma posição de mesa irreversível — Splinter Twin, Dimir Inverter e Izzet Epiphany são alguns exemplos.

Loading icon

Por fim, outro elemento ainda referente a combos são aqueles que possibilitam ganhar o jogo rápido demais: O seu combo pode até ganhar o jogo ocasionalmente no turno 3, mas quando isso ocorre frequentemente, você está quebrando o fluxo natural que uma partida de Magic deveria ter ao obrigar todos os oponentes a lhe responder antes que você consiga vencer, criando automaticamente um formato oprimido.

São muito difíceis de interagir corretamente

Quanto mais difícil seu deck for de interagir, mais problemático ele se torna. Seja pela ausência de boas respostas para o que você propõe a fazer (algo muito comum no Standard, ou no Pauper), ou por sua estratégia ser redundante demais e exigir um excesso de interações para possibilitar um jogo justo.

O Pauper, por exemplo, não consegue lidar bem com Storm porque não possui meios de evitar os triggers da habilidade, como Flusterstorm ou Mindbreak Trap, por isso todas as winconditions desse arquétipo foram banidos.

Da mesma forma, se seu oponente precisa recorrer a múltiplas cópias de hate de maindeck contra sua lista e/ou dedicar vários slots do Sideboard especificamente para uma partida contra você, é provável que seu deck seja quebrado.

O fator diversão

O "fator diversão" não é um elemento exclusivo relacionado a estratégias quebradas, mas é outro ponto que comumente leva ao banimento de determinados cards.

Ad

Loading icon

Nos últimos anos, diversão tem sido frequentemente considerado pela Wizards of the Coast na hora de banir cards na tentativa de manter sua proposta de que as partidas de Magic precisam ser interativas, divertidas e empolgantes para ambos os jogadores, e isso leva ao banimento de cards que promovem situações de anti-jogo, como a combinação de Karn, the Great Creator e Mycosynth Lattice no Tron do Modern, Teferi, Time Raveler no Pioneer e, em especial, Cauldron Familiar no Standard por criar uma experiência maçante e tediosa para o oponente, especialmente no Magic Arena.

Portanto, apesar disso não classificar um deck como quebrado, considere se o jogo que você está propondo é interessante e saudável na sua interação com seu oponente, ou se ele torna do fator diversão unilateral e, infelizmente, é justamente isso que leva muitos jogadores a nomear estratégias que eles julgam desagradáveis como “quebrados”.

Quando vale a pena montar um deck quebrado?

Ressalto que a solução ideal não envolve simplesmente abdicar de jogar com o melhor deck se você deseja obter os melhores resultados. Quando me pedem uma recomendação sobre com o que deveriam jogar em um torneio específico, costumo sempre dizer que as melhores opções são:

1) O deck que você está mais habituado a pilotar — Você terá um conhecimento amplificado de como se portar nas partidas mais importantes e sua experiência lhe recompensará.

2) O melhor deck do formato — Existe um motivo para ele estar no topo do Metagame, e com algum treino você definitivamente estará apto para pilotá-lo bem e sua experiência será benéfica para torneios futuros.

3) O melhor botão de “free win” — Às vezes, na dúvida de com o que jogar, a melhor opção é escolher o arquétipo que melhor ignora o que os demais oponentes estão fazendo, já que assim você garante boas oportunidades de ganhar do nada e colher alguns bons resultados em cima de arquétipos despreparados contra você. Isso é especialmente útil em torneios de médio porte com Metagame aberto.

Quando optamos por pilotar o melhor deck, precisamos entender que o preço disso pode ser muito maior do que apenas o investimento monetário, e você precisa estar pronto para intervenções diretas caso sua lista apresente resultados acima do esperado em diversos torneios ou, quando como demonstrado acima, ele apresenta padrões problemáticos para a diversidade e amplificação daquele formato em específico.

Suponho que sua pergunta a essa altura seja “então, quando devo decidir montar aquele deck que está fazendo ótimos resultados nos torneios?” — Para isso, construí um guia de análises gerais que você pode levar em conta na hora de decidir investir seu dinheiro.

Você tem os cards?

Obviamente, quanto mais peças você tiver da lista, mais fácil e menos caro se torna montá-la. É muito comum que jogadores de longa data já tenham uma pool gigantesca de cards daquele formato em específico e necessitem apenas de um ou dois playsets para montar um novo deck.

Ad

Em resumo, quanto menos cards e menos dinheiro você precisar investir na construção daquele arquétipo, é mais provável de você não ser tão prejudicado caso eventualmente algumas peças sejam banidas.

Esse tópico também nos leva a outra questão essencial:

Considere a longevidade dos cards fora desse deck em específico

O quão útil é a base do deck que você está construindo fora dessa lista?

Vamos avaliar dois exemplos do Pioneer:

Loading icon

Loading icon

Quando Thassa’s Oracle e Heliod, Sun-Crowned foram lançados em Theros Beyond Death, já existia um consenso de que elas habilitariam combos poderosíssimos no formato, e não levou muito tempo até que o Dimir Inverter e o Mono White Devotion crescessem no Metagame.

Como um amante de híbridos de Combo, eu fiquei maravilhado com essa nova era do Pioneer e queria montar um deles: na época, eu já tinha a disponibilidade de uma pool extensa com bons cards de diversos arquétipos e algumas listas completamente montadas. Ao avaliar as decklists, optei por construir o Dimir Inverter porque eu só necessitava de Inverter of Truth, Thassa’s Oracle e Jace, Wielder of Mysteries — O resto já estava disponível na minha pool e/ou eu compraria de qualquer maneira porque eram úteis em outras estratégias viáveis.

O Dimir Inverter tinha Thoughtseize, Dig Through Time, Kalitas, Traitor of Ghet, Fatal Push, dentre diversas outras peças que poderiam ser reutilizadas caso o combo fosse banido e que em muito colaboravam para eu poder construir outros decks no futuro.

O Mono White Devotion, por outro lado, tinha apenas Walking Ballista, Nykthos, Shrine to Nyx e algumas outras mágicas que dificilmente viam jogo fora dessa estratégia em particular, enquanto Nykthos e Walking Ballista eram staples somente para o Mono-Green Devotion.

Ou seja, considere se as cartas que você precisará adquirir terão outras utilidades fora do deck que você está construindo, e até mesmo se elas por acaso são úteis em outros formatos competitivos, caso você tenha de vendê-las futuramente.

Esse não era o caso do Naya Winota: Apesar de Fable of the Mirror-Breaker ser uma staple de múltiplos formatos e Esika’s Chariot fazer aparições ocasionais, a maioria de suas peças, além de relativamente caras, funcionavam quase que exclusivamente para esse arquétipo em específico, pois sem a capacidade de trapacear em mana, elas não faziam o suficiente para justificar seu uso no Pioneer.

Saiba identificar o problema

Um deck quebrado não surge do nada: algo o torna problemático e normalmente é um card ou um combo. Saber exatamente onde está o problema ajuda a compreender o que pode ou não ser banido com base na nossa experiência durante as partidas.

Loading icon

Em alguns casos, identificar esse problema é relativamente bem fácil e não requer muito esforço: todos sabíamos depois de poucas semanas que Oko, Thief of Crowns estava acima de basicamente todos os Planeswalkers já lançados até então.

Ad

Da mesma maneira, todos já imaginavam que Treasure Cruise quebraria o Legacy e outros formatos por basicamente dar espaço para a existência de um Ancestral Recall por um custo adicional facilmente contornável em formatos eternos.

Loading icon

Em outros, essa questão é complexa e difícil de interpretar através de um senso comum: o banimento de Prophetic Prism e Bonder’s Ornament (apesar de que esse último já era considerado problemático) foi uma alternativa inesperada de banimentos do Pauper para enfraquecer o Tron, mas que funcionaram incrivelmente bem para este propósito.

Porém, todos já estavam cientes que sua existência não era saudável e limitava a diversidade do Metagame, só não esperávamos que outro banimento que não fossem as lands de Urza resolveria a situação.

Loading icon

Na maioria das ocasiões, o senso de mente coletiva, a produção de conteúdo e a própria experiência de jogo o levará a compreender melhor a situação e avaliar quais são os verdadeiros problemas para o formato.

Ao identificar esse problema, considere se o seu investimento será alto demais na hora de construir seu deck no caso de uma futura intervenção e o quanto você perderá monetariamente por conta disso.

Avalie o custo-benefício

Por fim, qual é o seu objetivo jogando esse formato? Quais torneios você pretende participar, qual é a premiação deles e em quanto tempo eles ocorrerão? Você quer participar dos Qualifiers e outros grandes eventos, ou sua intenção é apenas de jogar na sua loja local durante uma sexta-feira à noite por semana?

Especialmente se você estiver começando no formato ou construindo um deck do zero, não vale a pena você investir alto numa estratégia quebrada que pode ser banida em 90 dias — É uma absoluta perda de tempo e dinheiro, e você dificilmente terá o retorno desejado dentro desse prazo porque as premiações semanais não costumam ser muito altas — logo, não seria melhor você investir em outra estratégia de grande sucesso que não esteja no limiar do banimento?

Por outro lado, se sua agenda permitir e seu objetivo for grindar torneios e ascender no cenário competitivo, jogando Qualifiers e outros grandes eventos, você provavelmente recuperará o investimento feito em algum tempo e poderá usufruir do melhor que o formato tem a oferecer ao esmagar impiedosamente seus oponentes por estar um passo à frente deles no quesito power level.

Eu sei, muitas vezes queremos construir um deck meramente porque gostamos da proposta dele, e não posso discordar dessa opção porque eu jamais teria jogado de Death’s Shadow em 2017 se eu seguisse uma linha racional e lógica. Novamente, se você realmente quer um deck no limiar das jogadas injustas e do power creep do formato, monte-o, mas esteja ciente das possíveis consequências e reconsidere, algumas vezes, se você não estaria fazendo um investimento melhor montando algo mais “seguro”.

“Mas meu deck não é quebrado, ele não deveria ser banido!”

Ad

Para encerrar, um último tópico que gostaria de mencionar nesse artigo é que a mente humana é extremamente traiçoeira e auto-conivente, criando todo tipo de evidência anedótica para nos convencer de que nossas convicções são fatos comprovados de que estamos certos, acima de qualquer ocasião.

Nesse caso, quando somos a pessoa jogando com o deck opressor, nunca admitiremos que ele precisa ser banido, ou não sabemos reconhecer o problema que ele representa para a saúde do formato e consideramos apenas que os oponentes não estão sabendo jogar contra ele. Apesar dessa possibilidade ser real em algumas ocasiões, em outras ela é apenas uma mentira que contamos a nós mesmos para negar a realidade provável.

Mas quando estamos pilotando um arquétipo quebrado, nós sabemos disso e temos essa sensação em cada jogo — Nós sentimos que o oponente está um passo atrás, sentimos que estamos fazendo algo absurdo, percebemos que eles estão tentando coisas demais para, ao menos, terem uma partida justa contra nós — sabemos que estamos no terreno elevado e estamos tirando proveito disso porque afeta diretamente o nosso senso de competitividade, já que as partidas ficam mais fáceis tanto pelo desespero ou cansaço mental de nossos oponentes, ou pela clara diferença de power level.

Esses pontos são ainda mais evidentes quando somos nós quem estamos enfrentando o deck quebrado, então recomendo jogar algumas partidas contra o melhor deck do formato e fazer uma leitura honesta do jogo para então compreender o quão poderoso ele é, e porque ele está nessa posição.

Perceber os sinais e ter essa honestidade consigo mesmo e com o jogo que você tanto ama lhe permite tomar decisões melhores quanto às suas aquisições e vendas dentro dele, além de colaborar com escolhas referentes àa sua própria postura dentro e fora do jogo, além da clareza de uma melhor compreensão do Magic competitivo.

Conclusão

Isso é tudo por hoje.

Espero, com esse artigo, esclarecer melhor a visão da comunidade sobre como formatos quebram e o que podemos fazer para mitigar o estrago que banimentos podem causar no retorno do jogo presencial.

Jogar com o melhor deck do formato é natural no Magic competitivo. Mas quando ele possui vantagens notórias em relação ao resto do Metagame, isso tem consequências — E precisamos aprender a aceitar ou prever quando o preço final cairá sobre nós.

Caso você tenha alguma dúvida, fique à vontade para a deixar nos comentários e posso retornar com uma segunda parte dessa série.

Obrigado pela leitura!