Deck Tech Standard 2022: Bant Party

Uma das mecânicas mais empolgantes de Magic durante a temporada de 2021 foi Party, uma mecânica que surgiu ainda em 2020, com Zendikar Rising, e que consiste em obter criaturas de tipo específico em jogo, como se seu objetivo fosse unir uma equipe digna dos clássicos jogos de RPG, em especial os RPGs voltados para aventuras como Dungeons&Dragons.

Por conta de como esta mecânica não parecia ter suporte o suficiente apenas com Zendikar Rising, acreditava-se que as próximas edições trariam suportes para a mecânica com criaturas relevantes nos tipos envolvidos, e possivelmente com um retorno da temática em Adventures in the Forgotten Realms.

Apesar de Kaldheim de fato trazer um suporte muito relevante à mecânica com Changeling, as demais coleções deixaram a desejar no quesito de dar suporte, com uma grande decepção do público vindo com o lançamento de Adventures in the Forgotten, onde a equipe de design da Wizards negligenciou a mecânica, que parecia perfeita para a temática da edição, em prol de... Rolamento de dados.

Por consequência do baixo suporte (e de Throne of Eldraine basicamente polarizar o Standard em torno das suas mecânicas, abrindo pouco lugar para que mecânicas mais recentes tivessem algum espaço), Party nunca chegou a fazer resultados nos eventos de Standard.

Porém, com o lançamento de Adventures in the Forgotten Realms, também foi liberado no Magic Arena o formato Standard 2022, um formato onde é válido somente as coleções que permanecerão no Standard após a chegada de Innistrad: Midnight Hunt, ou seja, os cards que continuarão a ser válidos após a rotação que levará consigo edições que definiram o formato este ano, como Throne of Eldraine, Ikoria e Theros Beyond Death.

E para minha surpresa, um dos principais decks Tier 1 do formato hoje, junto do Mono-White Aggro e do Orzhov Control é o Bant Party, um deck que possui uma winrate média de 65% do formato segundo o site Untapped.gg, tornando-o uma ótima escolha no formato atual e um possível competidor do próximo Standard.

Como o nome do deck já sugere, o Bant Party possui como objetivo montar a sua Party com suas criaturas e se beneficiar com criaturas que possuem fortes sinergias com a mecânica, como Squad Captain dando indestrutível para suas criaturas, Archpriest of Iona se tornando até mesmo um 5/3 Flying por uma mana e Linvala, Shield of Sea Gate travando criaturas ou Planeswalkers do oponente por um turno inteiro, além de mágicas que se tornam poderosíssimas com a mecânica, como Concerted Defense servindo como um Negate de uma mana e Spoils of Adventure comprando três cards por duas manas.

Apesar de Party não ter recebido o suporte necessário nas últimas edições, Kaldheim trouxe ao deck algumas peças essenciais que tornam da estratégia bem mais viável: cards como Masked Vandal e The Bears of Littjara permitem ao arquétipo ter acesso flexível aos tipos de criatura necessários, enquanto Jaspera Sentinel, uma criatura do tipo Ladino colabora com a Party, facilitando a mana do deck.

O deck possui diversos ângulos de atacar, obter valor e diferentes ameaças que demandam uma resposta de acordo com como sua mesa cresce: fazer jogadas que ofereçam uma party completa no turno 4 para Squad Commander costuma ser a abertura agressiva do deck, mas ele também consegue manter o atrito nas partidas utilizando Linvala, Shoeld of Sea Gate, Tazri, Beacon of Unity, Spoils of Adventure e o kicker de Tajuru Paragon, que permitem ao arquétipo manter seu jogo mesmo quando ele se estende.

Na curva 1, temos Jaspera Sentinel e Archpriest of Iona.

Jaspera Sentinel é, no meu ver, o card que permite a este deck funcionar mesmo com uma manabase volúvel, já que cria um corpo relevante na mesa para lidar com criaturas X/1, enquanto permite ao deck utilizar de suas criaturas para adicionar a mana de acordo com como se mostra necessário, servindo como um acelerador no early game sem necessariamente perder sua utilidade posteriormente, já que pode ser utilizado para adicionar preto ou vermelho para a habilidade de Tazri, Beacon of Unity.

Archpriest of Iona é o seu drop 1 ideal quando sua mão se apresenta com uma curva mais agressiva, já que ele inicialmente será uma criatura 2/2 por uma mana no turno 2, enquanto crescerá de acordo com como você joga suas outras criaturas, sendo sempre uma ameaça que dá evasão e um aumento de força para uma criatura sua com uma Party completa.

Linvala, Shield of Sea Gate é uma mistura interessante de interação com removals, ameaça evasiva e payoff para uma Party completa em um único card.

Na pior das hipóteses, Linvala, Shield of Sea Gate faz um bom trabalho como uma criatura 3/3 evasiva por 3 manas que adiciona um Mago à sua Party e serve como uma válvula de segurança contra os sweepers utilizados pelos oponentes, como Doomskar e Blood on the Snow.

Na melhor hipótese, ela poderá travar uma permanente de seu oponente, incluindo Planeswalkers, servindo como uma peça de soft-lock para os decks Control que procuram ganhar jogos com Planeswalkers.

Para completar a Party rapidamente, nós temos criaturas que conseguem preencher as lacunas deixadas pelas criaturas com tipos específicos.

Tajuru Paragon representa todos os tipos de criaturas de uma Party num único card, é um corpo agressivo (3/2 por duas manas) e possui um valor adicional no late-game, onde você pode pagar o custo de Kicker para olhar os seis cards do topo do seu deck e colocar na mão uma criatura que compartilhe um tipo de criatura com ela, dessa maneira repondo-a na sua mão sem muitos problemas neste deck.

Masked Vandal é uma criatura bem medíocre se comparada às outras do deck, mas é outra criatura na curva 2 que consegue preencher as lacunas deixadas pelos outros tipos de criaturas, e sua habilidade de exilar artefatos e encantamentos possui alguns alvos importantes em diversas partidas, como Paladin Class, Portable Hole, Firja’s Retribution, Esika’s Chariot e Ranger Class, além de interagir com o próximo card na lista.

The Bears of Littjara é provavelmente aquele card que você viu durante os drafts de Kaldheim, mas nunca prestou muita atenção se ele poderia ter alguma utilidade fora dos formatos selados, especialmente porque normalmente não teria.

Porém, neste deck, o card é uma verdadeira bomba ao essencialmente trazer em jogo um Changeling 4/4 que comumente irá destruir uma criatura ou Planeswalker do oponente por três manas.

É claro que o oponente pode remover o token de Changeling antes de qualquer outra habilidade da Saga ser desencadeada, mas o oponente terá gasto um recurso lidando com um token ao invés de lidar com outra criatura de maior impacto, o que é uma troca virtualmente favorável, e virtualmente irrelevante caso você tenha um Masked Vandal em jogo.

Apesar de a maioria das criaturas do deck terem boas sinergias entre si e se beneficiarem naturalmente da Party, existem cards que funcionam como os verdadeiros payoffs para aumentar a quantidade de criaturas na mesa.

Squad Commander comumente será o card que o oponente teme que você jogue com uma Party cheia ou quase cheia, já que ele não só oferecerá diversos corpos na mesa mesmo diante de um removal, quanto poderá dar +1/+0 e indestrutível para suas criaturas durante o combate, aumentando significativamente o clock na mesa e essencialmente terminando o jogo caso você desvire com ele.

Tazri, Beacon of Unity comumente será uma criatura 4/6 por uma ou duas manas nesta lista, estabelecendo um aumento no clock, adicionando o tipo Guerreiro à Party e possuindo uma habilidade de manasink que lhe dará card advantage constante, permitindo repor sua mão com dois cards praticamente todo turno e removendo as lands do topo do seu deck.

Falando em card advantage, Spoils of Adventure é um card poderosíssimo quando jogado por duas ou três manas, já que oferece três cards para a mão E três de vida com um único card, servindo para que o arquétipo possa repor sua mão após jogar suas criaturas e montar sua Party.

Por fim, este é um deck que possui uma necessidade de proteger suas criaturas contra alguns diversos tipos de interação e que não pode ter determinados cards sendo anulados, e com o Standard 2022 sendo um formato Melhor de Um, você não pode focar determinadas respostas ao sideboard, e neste caso Concerted Defense serve como uma ótima maneira barata de interagir com as interações do oponente ou evitar que ele jogue suas bombas como Alrund’s Epiphany.

O maior problema deste deck é sua manabase, já que esta lista quer utilizar a maior quantidade possível de lands desviradas, e não existem duais o suficiente no formato para criar uma manabase de três cores que seja consistente para decks que procuram jogar na curva agressiva.

O deck adota um playset de cada Pathway nas cores de Bant, e utiliza outros Pathways (que podem gerar azul, branco ou verde) para ter acesso, se necessário, ao preto e ao vermelho para a habilidade de Tazri, Beacon of Unity.

O grande problema das Pathways neste tipo de lista é que você pode ser severamente punido por utilizá-los sem um planejamento ou ideia de quais serão os próximos terrenos que serão comprados, já que você pode utilizar um Hengegate Pathway para branco para jogar Archpriest of Iona e acabar sem mana azul no turno 3 para conjurar Linvala, Shield of Sea Gate ou The Bears of Littjara

Para procurar cobrir um pouco essa inconsistência na manabase, o deck utiliza um playset de Temple of the Dragon Queen, que basicamente funciona como um Pathway de todas as cores, mas que possui a severa condição de entrar virado a menos que você revele um Dragão da sua mão ou controle um Dragão.

Este card possui uma sinergia com Masked Vandal e The Bears of Littjara para entrar desvirada, mas dado que estamos falando de oito cards em um deck que possui uma necessidade muito grande de jogar suas ameaças na curva certa, e ter um terreno entrando virado pode significar um problema muito grande, especialmente em mãos sem Jaspera Sentinel.

Existe uma divisão nos slots entre as listas que utilizam Concerted Defense ou optam por uma curva mais agressiva com Luminarch Aspirant.

Não existe um consenso de qual das opções é melhor e isso depende muito de se você quer ter um plano mais agressivo ou mais flexível contra mágicas que ganham jogos como Alrund’s Epiphany, e se o formato fosse um Bo3, eu definitivamente jogaria com Luminarch Aspirant no maindeck, e incluiria Concerted Defense ou Negate no Sideboard.

Outro card utilizado em algum número pelas listas é Nimble Trapfinder, uma ameaça evasiva que pode gerar muito card advantage com uma Party completa.

Apesar do card cobrir bem a curva 2 do deck e se encontrar num tipo de criatura compartilhado somente com Jaspera Sentinel, sinto que o card faz muito pouco sem uma Party completa e parece não estabelece pressão o suficiente para justificar o seu uso.

Algumas listas utilizam uma ou duas cópias de Journey to Oblivion como uma interação contra criaturas e, novamente, é possível que este card poderia ser melhor utilizado em jogos com Sideboard, mas sinto que é outro payoff que faz muito pouco pelos slots à menos que poderiam ser investidos em cards mais úteis.

Porém, se o Metagame do Standard 2022 se provar muito agressivo no futuro, é possível incluir este card no deck.

• Como mencionado anteriormente, a maior fraqueza deste deck é sua manabase. Portanto, planeje bem como você pretende jogar suas lands para não carecer de uma cor essencial nos primeiros turnos do jogo.

• O seu deck precisa estabelecer uma presença de mesa. Logo, mãos com nenhuma criatura de custo baixo ou com múltiplas cópias de cards de custo 3 ou maior sem meios de jogá-los rapidamente costumam significar um Mulligan.

• Dito isso, às vezes é necessário assumir alguns riscos porque este deck não costuma mulligar muito bem, como, por exemplo, manter uma mão com as fontes de mana necessárias e um drop de custo 1 sem nenhuma jogada de turno 2.

• Caso sua mão inicial possua Archpriest of Iona e Jaspera Sentinel, é preferível jogar Jaspera Sentinel caso você tenha uma criatura de custo 2, já que desta maneira você poderá jogar o seu drop 2 e Archpriest of Iona no turno 2.

• Squad Commander é o card que você comumente quer utilizar com a Party completa ou quase completa, e comumente um card que você quer ter acesso a um Concerted Defense ou Linvala, Shield of Sea Gate de backup, já que ele consegue estabelecer uma pressão que ganha o jogo em pouquíssimos turnos.

• O sweeper mais comum no formato hoje é Blood in the Snow, então há bastante espaço para você planejar suas jogadas. Porém, caso o oponente esteja jogando com branco num deck que não seja agressivo e utilize algum card de Foretell, considere que pode ser um Doomskar.

• Contra decks Control, você quer estabelecer uma posição de mesa forte com backup de Linvala ou Concerted Defense, e na maioria das vezes é seguro passar os primeiros turnos tentando ser o agressor. Contra Aggro, você quer fazer jogadas que tornem do combate favorável, e cards como Masked Vandal bloqueiam bem e Squad Commander faz um bom trabalho em segurar ou virar o jogo contra decks agressivos.

• Por conta das sinergias que seu deck possui, nem sempre é bom trocar uma criatura sua com a do seu oponente caso isso prejudique a construção da Party.

• Sua matchup ruim é contra decks que utilizam muitos removals pontuais enquanto conseguem estabelecer pressão e ameaças que bloqueiam bem as suas criaturas, como o Rakdos Midrange ou o Izzet Dragons.

• Caso você tenha de optar por jogar uma mágica como Spoils of Adventure ou uma criatura, é preferível optar por aumentar a sua posição na mesa.

• Considere Tazri, Beacon of Unity como uma criatura agressiva de custo baixo. Sua habilidade é muito útil no Late-Game, mas costumará ser a última coisa que você poderá fazer.

• O seu topdeck com essa lista é muito ruim. Portanto, utilize bem seus recursos e tente evitar ficar sem meios de estabelecer uma posição na mesa e/ou meios de comprar cards.

É difícil afirmar isso para qualquer deck hoje, porque precisamos saber o que virá com Innistrad: Midnight Hunt para podermos especular exatamente o que será viável e o que não será viável no formato.

O que posso afirmar é que este deck precisa de um elemento muito importante para ser competitivamente viável no próximo Standard: uma manabase mais estável que possa sustentar os requerimentos de mana do deck.

Isso significa ganhar acesso à duais melhores que entrem desviradas ou a manafixers que se encaixem na temática do deck enquanto ajudam a consertar a curva de mana, como é feito com Jaspera Sentinel. Sem isso, o deck será instável e inconsistente demais se comparado aos outros decks agressivos que poderão aparecer no formato, como o Mono-White Aggro ou o Mono-Green.

Outro ponto que me parece necessário para este deck é ter uma criatura melhor na curva 2 que corresponda a um tipo de criatura menos presente no deck, como Mago ou Ladino, já que apesar de a interação de Masked Vandal com o deck ser incrível, um corpo 1/3 na curva 2 não é onde um deck que está tentando ser agressivo quer estar.

Por fim, não se trata apenas do que o deck possui, mas também do que outros decks poderão receber: O Bant Party tem sérios problemas com decks Midrange que possuem muitos removals, e se estes decks se tornarem muito presentes no formato, será impossível manter as sinergias do deck ativas ou uma mesa cheia com criaturas de tipos diferentes.

Este foi meu deck tech do Bant Party, do formato Standard 2022.

O deck extremamente divertido e muito forte no Standard 2022, e eu espero de verdade que ele possa suceder após a rotação já que se trata de uma das mecânicas mais temáticas e interessantes lançadas no último ano, e decks agressivos multicoloridos costumam ter um lugar especial no coração dos jogadores de Magic.

A spoiler season de Innistrad: Midnight Hunt começa esta semana, no dia 2 de Setembro, e à partir deste momento poderemos especular quais decks terão maior potencial no novo Standard e quais decks ficarão limitados aos jogos casuais ou de ranqueadas menores no formato.

Obrigado pela leitura!