Entendendo os Brackets e Game Cangers
A comunidade de Magic: The Gathering recebeu um anúncio significativo com a revelação do Commander Brackets, um novo sistema projetado para equilibrar melhor as partidas no formato mais popular do jogo. A novidade foi apresentada nesta terça-feira (11), no programa DailyMTG, pela Wizards of the Coast, e já está gerando discussões entre os jogadores.
Desenvolvido pelo Commander Format Panel (CFP) e liderado por Gavin Verhey, o sistema estabelece um método para definir níveis de poder nos decks de Commander. O objetivo é criar um padrão de comunicação entre os jogadores, facilitando encontros mais equilibrados sem comprometer a flexibilidade do formato.
Ad
Por que criar os Brackets?
É comum que jogadores entrem em mesas de Commander e percebam diferenças significativas na potência dos decks, o que pode prejudicar a experiência de jogo. Os Commander Brackets surgem para ajudar a evitar esse problema, alinhando expectativas e garantindo partidas mais justas.
A Wizards enfatiza que o sistema não é obrigatório, mas pode ser uma ferramenta útil para aqueles que buscam jogos mais nivelados. Ele também refina a tradicional escala de "power level 1–10", tornando a comunicação entre jogadores mais clara e eficiente. Como ainda está em fase beta, a empresa incentiva a comunidade a testar e enviar feedback para melhorias futuras.
Os 5 Brackets de Commander
O sistema classifica os decks em cinco categorias principais:
- Bracket 1: Exhibition: Voltado para decks criativos e experimentais, sem foco na vitória e sem cartas da lista Game Changers.
- Bracket 2: Core: Equiparado ao nível dos decks pré-construídos, permitindo partidas estratégicas, mas sem abusos.
- Bracket 3: Upgraded: Decks levemente aprimorados, permitindo até três cartas da lista Game Changers.
- Bracket 4: Optimized: Nível avançado, onde combos agressivos e estratégias poderosas são comuns.
- Bracket 5: cEDH: Ambiente competitivo, onde cada jogada é planejada com precisão para maximizar chances de vitória.
Essa estrutura ajuda jogadores a se organizarem de forma mais eficiente, reduzindo frustrações e melhorando a experiência de jogo.
Os Game Changers do Commander
Junto ao novo sistema, a Wizards introduziu a lista de Game Changers, composta por 40 cartas que podem influenciar drasticamente as partidas. Para manter um equilíbrio, essas cartas são restritas nos brackets mais casuais, mas liberadas nos níveis mais altos.

O Que Esperar do Futuro?
O sistema será testado em eventos como o MagicCon: Chicago, permitindo que jogadores experimentem os brackets e deem suas opiniões. A Wizards acompanhará os feedbacks para ajustes e pode até reconsiderar cartas banidas, realocando algumas para a categoria Game Changers.
Entrevista com a Comunidade - O que você acha dos Brackets de Commander?
E o que os jogadores acham dessa mudança? Conversamos com diversos jogadores para entender suas perspectivas e preocupações. Será que os Commander Brackets realmente tornarão as partidas mais equilibradas?
Eduardo Silveira
Um grande facilitador da Regra Zero, o modelo de brackets veio para revolucionar as conversas pré-jogo no Commander. Ao permitir que os grupos personalizem as regras para se adequarem ao estilo de jogo e às preferências de cada um, ele substitui de maneira muito mais prática o antigo sistema de níveis, que era subjetivo e, muitas vezes, prejudicava a experiência de gameplay.
Os brackets são, na verdade, um guia de boas práticas para promover um ambiente de jogo mais inclusivo e divertido. Eles não são um conjunto de regras rígidas e inflexíveis, mas um apoio para que todos se sintam à vontade e aproveitem ao máximo cada partida. Em essência, os brackets incentivam a conversa e a negociação, preservando a essência da Regra Zero: um jogo justo e divertido para todos.
Ad
Adoro a ideia da lista de Game Changers! É uma forma super inteligente de ter uma "lista de alerta" e usá-la para dar um up na lista de banimentos. Estou bastante empolgado com as futuras liberações. Sabe aquelas cartas que são problemáticas em um nível de jogo, mas tranquilas em outro? Com essa lista, podemos liberar essas cartas de boa, sem prejudicar a experiência de ninguém.

Antonio Faillace - Juiz
A proposta do CFP é muito interessante em alguns aspectos que vão além da proposta em si.
Antes de mais nada, é preciso lembrar que a divisão proposta não é definitiva, mas sim um projeto inicial sob o qual o Panel conta com feedback da comunidade para desenvolver mais. Existem sem dúvida imperfeições na divisão - mas seria assombroso se uma ideia dessa magnitude já viesse totalmente pronta e definida, sem oportunidades de melhoria.
Um dos problemas que se pode levantar com a proposta de "brackets" é estar fundada em dividir a comunidade, ao invés de uni-la mais. A noção de deixar um mesão mais equilibrado por meio de uma gradação da competitividade dos decks não é nova, mas partir dos responsáveis oficiais pela manutenção do formato é um indicativo que, talvez, o Commander tenha se tornado grande demais e com isso não seja mais possível atender os interesses como se fosse um grupo coeso. Daí, a formação de subgrupos - aparentemente separados por quão eficiente seu deck é em ganhar o jogo - permitirá um atendimento melhor desses interesses e expectativas.
O maior aspecto positivo da proposta do CFP, a meu ver, é o incentivo à comunicação e ao debate dentro da própria comunidade sobre diferença de power level entre decks - e fazer isso de uma forma que respeite tanto os jogadores mais casuais como os mais competitivos. Identificar certos padrões de jogo, como mana denial, turnos extras, combos infinitos, e fazer com que as pessoas se manifestem sobre o que querem ou não ver em sua mesa de jogo foi algo muito importante trazido pelo artigo.
Não posso deixar de criticar a forma escolhida de visualizar essa separação de tiers - uma progressão numérica, sendo 1 o nível mais casual, em que os decks seriam inclusive mais "fracos" que um preconstruído, e 5 o nível mais alto, com os decks mais fortes e eficientes. Escolher uma simbologia numérica implica dizer que existem decks melhores/piores, quando, na verdade o que existem são expectativas diferentes do que seria divertido dentro de um jogo de Magic. Acho que poderia ser usada uma forma melhor de demonstrar visualmente a separação - por cores, por nomes de personagens, etc.
Vem à mente a famosa separação de psicográficos/tipos de jogadores mencionada frequentemente por Mark Rosewater - os famosos Timmy/Johnny/Spike -, sendo que não há qualquer gradação entre eles, apenas o entendimento que são objetivos diferentes ao jogar Magic. Gostaria de ter visto o CFP fazer algo nesse mesmo sentido, ao invés de relegar decks casuais/divertidos ao nível 1 - o mais baixo - e os poderosos cEDH ao nível 5 - o mais alto.
Ad

Humberto Romeu - Jornalista
O projeto dos Brackets é bem estruturado e superou as minhas expectativas. Ele é simples de explicar e didático de entender para qualquer jogador minimamente bem-intencionado. Há alguns debates que, certamente, vão ocorrer com o tempo. Por exemplo:
- O termo "mana denial" parece compreendido como interação com terrenos com Ruination, Blood Moon e Winter Orb, mas e cards de taxing como Thorn of Amethyst ou Sphere of Resistance? Eles são considerados como Mana denial pata públicos mais casuais? Uma Thalia, Guardian of Thraben como comandante seria desagradável para os Brackets mais baixos?
- Me surpreendeu muito que todos os cards com Eminence tenham escapado do Game Changers dado o quanto eles mudam a dinâmica de uma partida. Posso afirmar com segurança que ninguém em um Bracket 1 ou 2 vai gostar de ver um Edgar Markov na mesa porque ele dita a velocidade de uma partida de Commander em torno dele a partir do turno zero.
- Por outro lado, me incomoda que comandantes estejam na lista de Game Changers porque cria um pressuposto de que eles não são bem-vindos em mesas mais casuais, mesmo com as devidas concessões.
Vale mencionar que os Brackets não são obrigatórios e o Rule 0 ainda reina, então cada grupo tem o seu contrato social de definir o que pode ou não. É uma proposta excelente, vai de encontro com o que o Commander precisa (organizar a comunicação de níveis de poder sem inserir regras demais), mas dado a repercussão que o último debate em torno do formato no ano passado, é provável que o painel precise trabalhar melhor algumas nuances nos próximos seis meses.

Mateus Nogueira - CEDH Brasil e Conquest Brasil
Desde a formação do Commander Format Panel e o anúncio da intenção de se criar um sistema de brackets muitas questões se fizeram presentes dentre as diferentes comunidades do Commander. Como funcionaria esse sistema? Seriam como banlists diferentes dentro do mesmo formato? Isso não dividiria ainda mais o público? A Wizards vai destruir o Commander? Finalmente, tivemos respostas para parte dessas perguntas.
Primeiramente, o sistema não é um sistema de banimentos por categorias. Pelo menos não exatamente. Foi criada uma lista de cartas chamadas de Game Changers, definidas pela capacidade de trazer impactos significativos durante uma partida. A depender da intenção e do nível de poder esperado, as cartas dessa lista funcionam como uma sugestão para se usar ou não, mantendo o status e relevância da famosa Regra 0 do Commander. Vale o que a mesa decidir.
Porém, a realidade é que nem sempre vamos jogar com pessoas que conhecemos ou temos intimidade, e é necessária uma forma de guiar e alinhar expectativas em lugares como a lojinha da cidade ou um grande evento. Dessa forma, o sistema de Brackets vem para auxiliar nesses casos, contando com 5 categorias diferentes, de 1 a 5: Exhibition, Core, Upgraded, Optimized, cEDH.
Ad
Em Exhibition e Core não é recomendado o uso das cartas Game Changers, além do uso de cartas de negação de mana e turnos extras (de forma algum no primeiro e ou sequenciais no segundo) e combos infinitos de 2 cartas e uma expectativa de que se usem poucos tutores. Ambos se diferenciam principalmente pela intenção, onde Exhibition claramente tende a ter listas temáticas pautadas na diversão (tema de pessoas sentadas, moças olhando para a esquerda, somente cartas de um determinado artista, cartas da 5ª série, etc). Em Upgraded há a possibilidade de uso de 3 Game Changers e combos infinitos de 2 cartas em estágios mais tardios do jogo. Por fim em Optimized e cEDH não há impacto das Game Changers ou restrições além da lista de banidas, e o que diferencia ambos é basicamente postura e mentalidade de jogo, onde no cEDH o foco é nas melhores escolhas de deckbuilding e game play em cada aspecto para vencer uma partida ou torneio.
Tendo feito as considerações sobre o funcionamento do sistema, posso trazer minha opinião. Claramente as brackets são um avanço em relação ao sistema de Power Level de 1 a 10 no alinhamento de expectativas. Era uma forma extremamente arbitrária de mensurar o potencial de um deck, abria margem excessiva para subjetividade e discussões intermináveis sobre classificação de um deck nessa escala. Não que as Brackets não tenham subjetividade envolvida, pois a intencionalidade de um deck não pode ser colocada em uma calculadora. Por exemplo, há uma chance muito grande de no evento da lojinha na Bracket 1 um jogador try hard levar um deck extremamente otimizado, sem nenhuma Game Changer, negação de mana ou turnos extras, simplesmente chegar, atropelar os demais jogadores e alegar que o deck dele está em conformidade com a Bracket, gerando uma imensa dor de cabeça para a comunidade local e o organizador do evento. Consigo pensar facilmente em vários decks otimizados que se adequem a esse cenário e, portanto, ainda vai ser necessária uma maturidade muito grande dos jogadores ao entender que a experiência de jogo dos demais é uma parte fundamental nas Brackets mais baixas.
Apesar do problema da subjetividade vejo que temos pontos que podem vir a ser muito positivos para os jogadores mais casuais e os mais competitivos. Ao se criar a lista de Game Changers, na prática essas cartas recebem um soft ban nas Brackets Exhibition e Core e se tornam restritas em Upgraded. Dessa maneira, embora não oficialmente, o Commander Format Panel acaba criando uma banlist voltada para os jogos casuais, tendo mais liberdade em ajustar os jogos sem sofrer retaliação pesada pelo banimento de uma carta (Oi, Mana Crypt).
Já para as Brackets Optimized e cEDH isso também pode ser muito positivo, pois pode trazer maior flexibilidade da ban list. Todo jogador de cEDH se retorce ao ver cartas péssimas como Coalition Victory e Sway of the Stars banidas, sabendo que não fariam absolutamente nenhuma diferença a nível competitivo. Ou mesmo, jogadores de Optimized que devem sonhar com a possibilidade de ver em ação cartas como Paradox Engine, Primeval Titan, Sylvan Primordial, Iona, Shield of Emeria ou Emrakul, the Aeons Torn. Cartas que claramente poderiam ser muito danosas nas mesas mais casuais, mas que poderiam ampliar a experiência de jogo nas mesas mais poderosas. E se cartas como essas fossem desbanidas e colocadas como Game Changer? Com certeza, não estragaria a experiência casual e ampliaria as possibilidades de deckbuilding e gameplay.
Ad
Eu acredito que o Commander Format Panel vá ser mais ousado do que o Commander Rules Committee jamais foi e começou com um bom acerto. Há prováveis desbanimentos em Abril e ao se criar esse sistema de softban para o casual, abrem-se possibilidades para inovar e enriquecer o Commander. Aguardemos.

Wendel Lemos - Juiz
Convenhamos que a criação dos brackets nada mais é que uma tentativa de formalizar a boa regra de comunicação entre as mesas de Commander. E não me entendam mal, eu acho essa ideia genuinamente muito boa. Precisa de refinamento, sim, mas é um bom começo.
O anúncio do anúncio não foi lá dos melhores. Lembro que discuti bastante sobre no meu grupo de jogo, que é totalmente orientado pra cEDH. Porém, os brackets foram uma surpresa que, pra mim, foi boa. Apesar de achar a distinção do 4/5 meramente ilusória, a ideia dos três primeiros ficou bem interessante. Já temos em algumas lojas brasileiras as limitações de decks, sejam pela mais segura que é o PRECON (onde o deck tem que ser exatamente como veio da caixa) até as variações que eu, particularmente, não curto pela volatilidade. Sim, estou falando do CMD 250/300/500/etc.
Apesar do apelo popular que essa variação do formato têm em diversas comunidades, eu gosto da ideia de uma "chancela" da Wizards para determinar onde cada deck se encaixa e, permitindo de maneira mais concreta que os jogadores consigam saber onde seus decks se encaixam. Como eu disse antes, essa ideia precisa de MUITO refinamento. Até porque, o que não falta no Magic é gente querendo quebrar o jogo e, sim, já tem gente querendo quebrar o sistema de brackets. De qualquer modo, temos um começo que pode ser promissor.

João Pedro Vieira Barros
O novo Bracket System para Commander surge como uma tentativa de organizar melhor as partidas, oferecendo uma maneira mais clara para jogadores encontrarem mesas equilibradas. A ideia é substituir a velha escala de "1 a 10" por uma classificação mais objetiva, dividindo os decks em cinco categorias que indicam o nível de poder e o tipo de interação esperado. No papel, é uma solução promissora, mas, na prática, o impacto pode ser bem limitado.
A verdade é que para muitas mesas de Commander, essa mudança não fará diferença alguma. Playgroups fechados já possuem um entendimento sobre o que funciona e dificilmente precisarão dessas divisões. O que realmente determina o fluxo das partidas continua sendo a conversa entre os jogadores antes do jogo. Regra Zero sempre foi o mecanismo principal para balancear mesas, e isso não deve mudar.
Por outro lado, em eventos maiores ou mesmo em lojas onde pessoas diferentes se encontram para jogar, o Bracket System pode ajudar a evitar aquelas partidas onde um deck otimizado atropela três decks casuais. Se funcionar bem, ele poderá criar jogos mais justos e agradáveis, pelo menos em teoria.
Ad
Um dos pontos fracos do sistema é que ele não impede jogadores desonestos de "roubar" sua classificação para obter vantagens fáceis. Se antes já existiam pessoas que falavam que seu deck era um "7" e acabavam jogando com um deck competitivo, agora elas apenas vão dizer que estão no Bracket 3, quando, na verdade, deveriam estar no 4 ou 5 (inclusive eu já tive experiências com isso em menos de uma semana). No final do dia, o fator humano ainda é a maior variável quando se trata de encontrar jogos equilibrados e a rule zero a mais importante.
O Bracket System é, antes de tudo, um beta. A própria equipe de desenvolvimento sabe que ajustes serão necessários. A divisão de categorias, a lista de "Game Changers" e os limites de cada bracket ainda podem mudar conforme mais jogadores testam o sistema. Isso significa que vale a pena dar uma chance para ver como ele funciona na prática, especialmente em ambientes abertos.
Porém, é improvável que ele substitua completamente a conversa pré-jogo. Para muitos, ele será apenas mais um detalhe que pode ser ignorado. No fim das contas, o sucesso do sistema vai depender da comunidade abraçar a ideia e aplicá-la com honestidade.
Se isso vai acontecer? Difícil dizer. Mas, por enquanto, vou testar e ver no que dá.
Finalizando
E você, o que achou dos Brackets? Conta para a gente nos comentários!
— Comentarios0
Seja o primeiro a comentar